Quero ser Johnny Cash

Quando me perguntam qual o melhor livro que eu já li, várias respostas me vem à cabeça. Não que eu tenha sido um grande leitor ao longo dos meus 29 anos, mas não sou dos menos rankeados em matéria de leitura. Meu gênero favorito são as biografias, especialmente aquelas que são escritas de próprio punho (ou no computador mesmo) por seus personagens centrais. Recentemente fiquei impressionado com a honestidade de Eric Clapton e Keith Richards em suas autobiografias. Ícones das música falando abertamente sobre suas experiências de vida. Porém, a mais marcante, a que mais me impactou pela veracidade de cada uma das linhas foi a versão americana de "Cash - The Autobiography of Johnny Cash".


Tive que ler a obra toda em inglês mesmo já que, por incrível que pareça, não há uma tradução para o português. A maneira como ela chegou a mim foi das mais improváveis. Em 2009, eu estava em São Paulo participando de um congresso de jornalismo cultural no famoso Teatro TUCA/USP-SP, no residencial bairro de Perdizes. Num daqueles intervalos entre uma palestra e outra resolvi dar uma volta pela região. Encontrei um bom (e barato) restaurante para almoçar, um café bom para trocar ideias e um sebo histórico. Confesso que não lembro o nome da lojinha de livros usados, mas lá estava a autobiografia do homem de preto, escondida entre poetas franceses e escritores brasileiros menos prestigiados. R$ 35 reais por aquela lição de vida foi o melhor investimento que eu já fiz.


Nas mais de 430 páginas do surrado livro, Cash escreve boa parte de suas memórias em primeira pessoa, o que confere um realismo absurdo e superior à obra. Suas histórias de brigas, confusões, loucos amores, tragédias pessoais, vícios, até a redenção religiosa e o casamento estão ali descritas com riqueza de detalhes. O cantor e compositor nascido em Kingsland, no estado americano do Arkansas, foi um homem de fortes amores, compaixão, convicções extremas e uma personalidade revolucionária. Um pouco desta vida cheia de som e fúria é perceptível na obra musical. As letras, a voz rouca e a mistura de country, folk e rebeldia revelaram um artista absolutamente contestador e à frente de seu tempo. Tocar em prisões é moda entre rock stars? Cash já havia gravado, em 1969, um disco ao vivo dentro da penitenciária de San Quentin, na Califórnia.


Esquecendo um pouco o astro e pensando no homem, Johnny Cash foi uma figura admirável. Apesar de toda a loucura de suas atitudes, por fim, ele sempre seguiu seu coração, sem medo e sem se importar com os que as pessoas comuns iriam pensar do seu comportamento. Cash não estava nem aí para outros. Amou loucamente sua pequena, a cantora June Carter, a qual após idas e vindas declarou ser a mulher da sua vida. Teve a ajuda dos amigos para superar o vício no álcool e nas drogas. Morreu gravando discos, tocando, compondo ao lado de June, fazendo shows e deixou um dos maiores exemplos de como um homem deve se portar frente a longa e tortuosa estrada da vida: ser ele mesmo.

Comentários

Flávia disse…
Meu deus que texto lindo! não sabia que ele tinha uma autobiografia... Me apaixonei pelo Johnny Cash quando vi o Walk the Line pela primeira vez e hoje é um dos meus filmes preferidos, realmente o que ele fez de melhor na vida inteira dele foi ser ele mesmo.
Anônimo disse…
Tenho um blog, totalmente dedicado a Johnny Cash. Quando puder, acesse: http://senhorcash.wordpress.com

Tenho uma página no Facebook também. Basta procurar por "Senhor Cash".

Abraços!
Victor Oliveira disse…
Belíssimo texto cara!

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