O futuro da música é o single

Em 2004, Chico Buarque concedeu uma de suas poucas entrevistas. Ao jornal Folha de São Paulo, o autor de "Geni e o Zeppelin", "A Banda" e "Feijoada Completa", disse que a "a canção já foi, já passou". A declaração do velho Francisco foi motivada na época pela situação caótica em que vivia a indústria fonográfica brasileira e mundial. A situação hoje, não é muito diferente. Cada vez menos pessoas compram discos em formato material, o famoso CD. O vinil ensaia uma volta, mas ainda é privilégio de um "ghetto" formando por antigos colecionadores e jovens que compram via Amazon.com.


Recentemente, o baiano gremista Gilberto Gil resolveu entrar em campo contra o tricolor carioca. Gil disparou, entre frases e perguntas sobre seu tempo de ministro, que Chico estava errado e que a canção nunca vai morrer. Silêncio. E agora? Ousaria alguém criar uma disputa de frases entre dois cardeais da MPB ? Teríamos a terceira guerra mundial entre a Bossa Nova e o Tropicalismo ? Nada disso. Gil só discordou gentilmente de Chico. Na verdade, talvez ambos estivessem errados.


Faz algum tempo já que a indústria da música, como ela era antigamente, vem agonizando. Acabou-se o tempos das milhões de cópias vendidas. A frase mais ouvida por quem estuda o assunto é "estamos mudando, mas não sabemos pra onde isso vai". A verdade é que a internet bagunçou tudo. Primeiro foi com o Napster, depois vieram outros sites de compartilhamento e por fim o Pirate Bay. Todos eles "vilões", segundo as gravadores e alguns poucos artistas bilionários. Poder fazer download todo o tipo de música, de qualquer lugar do planeta, esvaziou as lojas de discos e obrigou os engravatados a pensar em uma solução para o novo paradigma da música mundial.


A minha ideia de tudo isso é que estamos caminhando para uma nova "era do single", onde talvez o álbum em si não seja tão importante quanto boas canções lançadas em formato solo, ou no máximo com uma faixa bônus. Recentemente o Red Hot Chili Peppers, uma das maiores bandas do mundo, anunciou que no lugar de um novo álbum vai lançar 18 singles separadamente. A iniciativa é uma prova de que algo vai mudar.

Não que o disco, como conceito de música, vá morrer. Eu acredito que isso não vai acontecer. Mas preciso entender que o público talvez não tenha paciência e vontade de ouvir 14, 15 músicas de um mesmo artista e que, convenhamos, não formam um repertório de tão boa alta qualidade assim. Talvez 5 ou 6 destas obras vão realmente chamar a atenção de quem ouve o disco e podem ser lançadas separadamente. O resto são sobras. 

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