A revolução pós "pé na bunda"

Levar um pé na bunda, como se diz na gíria, nunca é uma coisa legal. Não é bacana pra quem entra com o instrumento de chutar, muito menos pra quem entra com o traseiro nessa história. Os dois lados saem machucados do fim de um relacionamento. Dizem até que existe uma cronologia lógica dos fatos para quem ficou com a pior parte da história: primeiro vem a raiva, depois a tristeza, a saudade e, por fim, a conformidade com o rumo que as coisas tomaram. Com o passar dos anos pode até nascer um sentimento de compaixão com o outro.


Porém, o fim de uma história de amor pode trazer alguns bons frutos quando se torna uma motivação, a mola impulsora que faltava para algumas revoluções em outros campos da vida. Veja, por exemplo, o caso da cantora americana Norah Jones. A bela moça ganhou oito prêmios Grammy, em 2003, com o álbum "Come Away With Me" e vendeu milhões de cópias de seus discos seguintes. Mas, e na vida há sempre um mas, faltava um pouco de veneno e malícia para a bonitinha filha de Ravi Shankar.

O veneno, no sentido figurado da coisa, veio a partir de 2008 com um pé na bunda. Lee Alexander, parceiro de tantas noites, beijos e composições, resolveu por fim ao casamento pessoal e profissional com Norah. Meio sem rumo e sem saber o que fazer, a garota se refugiou em seu apartamento em Nova York e de lá pouco saiu em meses. Suponho eu, que ela tenha preparado boa parte das letras das melodias do álbum "The Fall", que saiu pouco mais de um ano depois da separação. E é aqui que o veneno de Norah Jones ganha contornos musicais.


O disco veio cheio de referências explícitas a desilusão amorosa ocorrida e mostrou uma artista muito mais madura e dona de si. Como se, em uma suposição minha ao fim do casamento de Norah, ela tivesse se libertado de uma força que a bloqueava criativamente e apenas usava sua bela voz para cantar melodias jazzisticas ao piano. Eis que surge uma Norah muito mais verdadeira e próxima da essência de uma pessoa que soube transformar uma limão e uma bela limonada. A catarse musical (e visual, já que ela aparece hoje em dia de cabelo curto e vestidos igualmente diminutos) seguiu por seu mais novo trabalho, chamado "Little Broken Hearts".


Com certeza todo mundo já passou por uma situação parecida e menos musical do que esta. O pé na bunda como impulso para o que vem logo ali na esquina, um estímulo ao novo e um abrir de portas e janelas para a vida que brilha lá fora e como diriam os Stones "is dyin to meet you". Norah Jones que, antes parecia cantar para seu namoradinho se deu conta de que o cara era um canalha e passou a ser ela mesma: bela e venenosa.

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